Entrevista do presidente da Contraf-CUT sobre os 11 anos da entidade

O presidente da Contraf-CUT, Roberto von der Osten, cedeu uma entrevista ao nosso site para fazer uma análise da situação político-econômica do Brasil atual e revelar a sua perspectiva para os próximos anos.

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Reportagem Contraf-CUT: São 30 anos, do DNB à Contraf-CUT. Estamos num dos piores momentos para o trabalhador brasileiro?

Roberto von der Osten: Sim.  Mesmo nos períodos duros da ditadura e nos anos neoliberais de FHC, a elite empresarial nacional não tinha conseguido acumular poder legislativo para alterar leis de garantia de direitos ou da CLT. Nesta legislatura foi diferente. Juntos com a grande mídia golpista, criaram uma narrativa de que alguns partidos e movimentos sociais são corruptos e precisam ser combatidos. Concomitantemente, financiaram a campanha de centenas de candidatos a deputado federal e senadores, elegeram uma bancada impressionante de representantes do poder econômico. Engendraram um sofisticado golpe constitucional para sacar a presidenta Dilma (por terem perdido a eleição de 2014) e apoiaram, até agora, a posse do vice-presidente. Estão ganhando tempo e buscando inviabilizar futuras candidaturas do campo democrático e popular. Querem se apropriar do poder a qualquer custo.

 

Como resistir ao desmonte dos bancos e das empresas públicas em curso no governo Temer?

 Já vivemos isso nos governos FHC. Criam uma narrativa de que empresa pública é ineficiente, corrupta e sem serventia. Sucateiam estas mesmas empresas para que a narrativa seja verdadeira. Quando estão sucateadas vendem porque são deficitárias e o povo não enxerga mais o papel social delas.

A saída é ter uma forte mobilização dos empregados para mostrar que os bancos e empresas públicas tem um papel social forte e importante. Mas isto não basta. Este movimento tem que ser diferenciado, não pode ser corporativista, ainda que a defesa do emprego seja importante e fundamental.

Estamos fazendo na Caixa Federal, na Petrobrás e nos Correios a campanha que diz “Se é público é para todos” e a sociedade tem entendido que o que é privado é para poucos. Esta parceria e cumplicidade com o povo é fundamental. Sem povo por trás vamos perder. Não apenas nós bancários vamos perder. O povo vai perder.

 

De que forma é possível avançar neste momento de caos para a classe trabalhadora?

A sociedade só avança se realmente entender que estamos em guerra e sob ataque dos poderosos que querem de volta o Brasil “deles”. O Brasil que pagava poucos para os empregos domésticos, que tinha um exército de mão de obra desempregada à disposição dos ricos por alguns trocados. Das regalias exclusivas da classe alta, dos aeroportos só para eles, das universidades só para eles, carros, viagens, roupas, tudo. Tudo era para eles. Os governos Lula e Dilma fizeram uma ruptura nesta lógica. Fizeram uma inversão de prioridades. Retiraram milhões da miséria, distribuíram renda, geraram empregos, uma classe média nova emergiu, os aeroportos lotaram e o emprego foi quase pleno em alguns setores. Isto incomodou muita gente. Incomoda ainda. Basta ver o ódio que destilam nas redes sociais. Mas como avançar? Como retornar à situação anterior? É um processo! Lento, muito lento. Muito conversado. Muito trabalho da militância e dos que acreditam que um outro mundo é possível. Mas vai, inevitavelmente, acontecer.

 

Os trabalhadores brasileiros já entenderam o momento crítico e a ameaça de retirada de direitos?

Não entenderam coletivamente. A ficha vem caindo por setores e ainda a conta gotas. Mas a sanha das elites empresariais está aumentando. A fome brutal para se apoderar dos direitos e da parcela de renda distribuída. Querem concentrar, de novo, rapidamente. Cada dia um setor reclama do presidente golpista a cobrança da fatura. A futura reforma da Previdência acendeu a luz vermelha na classe média, a conversa de ampliação da alíquota de imposto de renda, a privatização de empresas estatais que emprega um número grande de apoiadores das marchas de rua dos que queriam o “Fora Dilma!”.

Os empregos de menor qualificação já foram duramente atingidos pelo desemprego. A infraestrutura que empregava milhões está imobilizada. O comércio e serviços estão recuando e a indústria volta a patamares anteriores aos governos democráticos e populares. A insatisfação aumenta, basta ver a baixíssima aprovação do governo golpista e o grau de confiança do empresariado.

 

Qual a importância da aquisição da sede em Brasília?

A sede matriz da Contraf-CUT é localizada em Brasília. Desde nossa fundação o nosso endereço foi a sede do Sindicato dos Bancários de Brasília, ao qual somos profundamente gratos. Foi nosso endereço pioneiro, de um tempo onde a Confederação não estava solidificada financeiramente. O SEEB Brasília acolheu nossa sede e foi estratégico para a gente obter nosso registro sindical. Entretanto isso mudou. Nossa entidade já tem condições de desonerar nosso sindicato que nos acolheu por tanto tempo. Agora é a hora do sonho de ter sede própria em Brasília. E organizar a sede de formas que possa acolher as Comissões do BB e Caixa, em estrutura própria, além de sediar nossas reuniões e interlocuções nos entes públicos. Além disso vai reforçar a nossa ação no parlamento, cuja maioria tornou-se perigosamente contra trabalhadores. Nossa nova estrutura vai sediar a nossa assessoria parlamentar.

 

Qual a importância da ampliação da Sede de São Paulo?

A sede de São Paulo foi adquirida num lugar extremamente bem localizado e tinha espaço para produzir muito mais. O auditório estava subutilizado e as secretarias careciam de espaço. Além disso, um pé direito grande insinuava que caberia aqui um mezanino com novas salas de reunião. Um bom projeto adaptou a nossa sede paulistana para servir melhor à nossa luta.

 

E da organização do Cedoc?

Os dirigentes da Contraf CUT sempre foram muito aguerridos e comprometidos com os trabalhadores do ramo. No entanto, nossa história estava guardada em gavetas e caixas conhecidas por poucas pessoas. As sucessivas mudanças de endereço antes desta sede definitiva acabaram infelizmente sacrificando algumas informações.

Esta nossa gestão acredita que a história é para ser conhecida. A verdade e o desencadeamento dos fatos da história. Resolvemos realizar uma ação objetiva para registrar nosso passado e nosso presente. Organizar um Centro de Documentação. Contratamos pessoal especializado que está avaliando todas as caixas, fotos e documentos que temos. Aproveito a oportunidade para pedir às nossas entidades que tenham material histórico da luta dos bancários eu nos informem para que possamos registrar, digitalizar e perpetuar. Os trabalhadores que virão precisam saber da história, onde foi que acertamos e onde foi que erramos para poder continuar a nossa luta. Nós próprios somos herdeiros da luta de muitos homens e mulheres que agora poderemos conhecer.

 

Por que organizar um Congresso neste ano?

É um Congresso Extraordinário rigorosamente previsto por nosso Estatuto e vai servir para arrumar a casa. Em primeiro lugar para fazer uma análise da conjuntura mais sólida, após a difícil campanha nacional do ano passado e após a consumação do golpe institucional que derrubou um governo legitimamente eleito pelo povo, instalando outra coisa no lugar.

Após este olhar mais atento, poderemos debater um Plano de Lutas para nos guiar até 2018, ano de disputa presidencial e ano do 5° Congresso da Confederação que vai eleger a direção para o próximo período.

O último 4º Congresso foi traumático. Divergências foram afloradas, fraturas foram expostas e acabamos elegendo nossa direção, supervisionados por um oficial de justiça. Degradante. A política não teve a capacidade de administrar as divergências por haver descontinuidades no nosso estatuto, que era fruto de um período fraterno de 30 anos. Em nenhum momento as divergências anteriores foram irracionalizadas. Em 2015 foram.  E no período posterior, passamos parte do nosso tempo cuidando de ações jurídicas interpostas e resultantes do Congresso anterior, que chegaram ao limite de pedir ao judiciário a intervenção na direção da nossa entidade. E isto em plena Campanha Nacional, onde a nossa confederação coordena va e dirigia as negociações com a Fenaban e a greve que durou 31 dias. Construímos uma Confederação singular, não existe outra experiência sindical que acumule as virtudes da nossa unidade e mobilização nacional, e construímos uma Confederação plural, afiliamos federações e sindicatos da CUT, mas coordenamos um Comando Nacional dos Bancários que negocia desse 1992 uma Convenção Coletiva de Trabalho que vale para todos os bancários e bancárias do Brasil. Não foi pouca coisa. Por isso vai valer a luta e o debate político para garantir que um Congresso igual ao de 2015 decididamente não aconteça mais.

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