Encontro do Coletivo de Combate ao Racismo discute a necessidade de rearticular as lutas da esquerda

Durante o encontro do Coletivo Nacional de Combate ao Racismo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), entre os dias 13 a 15 de junho, militantes do movimento negro e ativistas discutiram a necessidade da rearticulação entre as lutas da esquerda brasileira e do movimento negro.

A atividade, que termina nesta sexta-feira (15), e contou com dirigentes das CUTs estaduais e Ramos, na capital paulista, definirá o planejamento, ações e demandas da central para o próximo período.

No debate sobre as experiências dos Ramos, o secretario de Combate ao Racismo da Contraf-CUT, Almir Aguiar, destacou a história de organização de lutas da Confederação, com o combate ao assédio sexual, conquista da ampliação da licença-maternidade para 180 dias e isonomia de tratamento para casais homoafetivos. Também destas lutas da categoriaacou a realização do Mapa da Diversidade e a luta por mais contratações de negros e negras nos bancos.

“O seminário foi fundamental para organizar nossas lutas de forma unificada. Questões que precisam ser enfrentadas pelos movimentos sindical e social, visto que nesta conjuntura existe uma perspectiva que a população negra e pobre do Brasil vem perdendo conquistas importantes da última década, como as ações afirmativas, que tiraram muita gente da extrema pobreza – principalmente a população negra – como o ProUni, o sistema de cotas nas universidades e muito mais”, afirmou Almir.

Segundo a presidenta da Fundação Palmares, Maria Aparecida Abreu, a esquerda não compreendeu o racismo. “Deixaram de dar espaço para a juventude e as mulheres. Temos que preparar e trazer essa juventude para os espaços de poder”, explicou.

Durante a mesa que debateu “As políticas de ações afirmativas no Brasil e as lutas”, os participantes chegaram num consenso de que é preciso reconciliar a esquerda com o movimento negro no país.

O professor e militante do movimento negro, Douglas Belchior, também concorda que reorganizar a esquerda passa “obrigatoriamente” pelo povo negro, que é a classe trabalhadora na sua maioria.

“As novas gerações não conseguem se relacionar com o campo de esquerda, entretanto, não existe outro lugar de reorganização política da negritude se não a esquerda”, disse.

Racismo estrutural, institucional e econômico

O racismo estrutural está em todos os espaços de poder e se manifesta no funcionamento das empresas, instituições ou organizações ao provocar desigualdade na distribuição de serviços, benefícios e oportunidades para a população negra.

De acordo com a secretária-adjunta de Mulheres da Prefeitura de São Paulo, Dulce Xavier, quando se fala em discriminação racial e de gênero, a mulher negra aparece numa condição muito pior. “É impossível falar da condição que a mulher vive sem falar da discriminação racial”, lembrou Dulce ao destacar que a população negra enfrenta mais dificuldades para conseguir emprego e recebe salários menores.

De acordo com um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgado em 2013, os negros recebem, em média, 63,89% dos salários dos não negros e se concentram em sua maioria no setor de serviços, sendo 56,1% dos trabalhadores no País.

Para a secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT, Maria Julia Nogueira, as mulheres negras lideram os postos mais precários de trabalho. “Mais de 70% dos postos de trabalho precarizados são ocupados por negros. E quando se fala da mulher negra é pior, porque sofre dupla discriminação, por ser negra e mulher”, falou a dirigente.

Mito da democracia racial

O Secretário-Geral da CUT, Sérgio Nobre, ressaltou que foi o mito da democracia racial no país é facilmente derrubado com uma observação um pouco mais atento das assembleias e postos nas montadoras. “Quando vamos fazer assembleia nas portas das fábricas, percebemos que a maioria dos trabalhadores são negros e na chefia são brancos. O preconceito racial existe, sim, e não é só aqui”.

“Na história social do Brasil, ao contrário do que se fala, que somos um povo pacifico, é o país que comete mais violência contra negros”, avalia o presidente da CUFA (Central Única das Favelas), Preto Zezé. Ele diz ainda que uma das características perversa do racismo é naturalizar a violência contra jovens negros nas periferias.

“Naturalizam a morte de jovens negros aqui, enquanto nos Estados Unidos as pessoas estão indo para a rua protestar contra o assassinato de negros pela polícia”, comparou.

Homenagem à Luiza Bairros

Durante a atividade, houve homenagens à ex-ministra da Igualdade Racial do primeiro mandato da presidenta Dilma Rousseff, Luiza Bairros, que faleceu nesta terça-feira (12), em Porto Alegre, vítima de um câncer no pulmão. Luiza foi uma importante líder que teve todo o seu histórico de militância negra e feminista construído na Bahia. Tornou-se secretária de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), em agosto de 2008. 

 

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