Encontro discute o papel estratégico da comunicação na contemporaneidade

A Contraf-CUT realizou nesta quinta-feira 16 o 2º Encontro Nacional de Comunicação, que reuniu no auditório da entidade, em São Paulo, 106 secretários de imprensa e jornalistas das federações e sindicatos filiados de todo o país. Os temas debatidos foram amplos. Desde a importância estratégica da comunicação na sociedade contemporânea, o papel da grande mídia e as possibilidades de democratização da informação abertas pelas novas tecnologias, até a necessidade da busca permanente de avanços para aprimorar a comunicação do movimento sindical com a categoria e com toda a sociedade.

O Encontro foi dividido em quatro mesas. A primeira, que discutiu Mídia e Democracia, teve como palestrantes o jornalista Bernardo Kucinski, professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP), e o secretário executivo da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Ottoni Fernandes Jr..

Na segunda mesa, o pesquisador sênior do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política (Nemp) da Universidade de Brasília, Venício A. Lima, discorreu sobre o tema Novas Tecnologias e a Batalha da Comunicação.

Na terceira, o secretário de imprensa da Contraf-CUT, Ademir Wiederkehr, focou a Rede de Comunicação dos Bancários, destacando a importância de um trabalho integrado com sindicatos e federações, respeitando a autonomia das entidades. A apresentação foi seguida de debates com dirigentes sindicais e jornalistas. Em seguida, Ademir expôs a proposta de mídia nacional da campanha salarial 2009, que será levada para a 11ª Confederência Nacional dos Bancários, que inicia nesta sexta-feira 17.

Ao final, o jornalista e diretor do Sindicato de São Paulo, Paulo Salvador, fez uma apresentação do Projeto Rede Brasil Atual, mantido por mais de 50 entidades sindicais e que envolve a Revista do Brasil, portal e rádio.

“Temos que pensar no projeto que queremos”

O secretário-geral da Contraf-CUT, Marcel Barros, abriu o Encontro destacando a importância da comunicação para a construção de um outro mundo possível. “Temos que pensar no projeto que queremos para a classe trabalhadora e para o país, e esta é uma excelente oportunidade para elaborarmos essas propostas”, afirmou Marcel.

Ademir, ao falar na abertura, também defendeu que os debates do Encontro possam ajudar a promover avanços na comunicação dos bancários. “Respeitando a autonomia dos sindicatos e federações, esperamos fortalecer a atuação independente, mas também que seja feita de forma integrada, para que juntos possamos melhorar a rede de comunicação dos bancários”, disse Ademir.

Revolução tecnológica democratiza a comunicação

“As classes dominantes investem em comunicação como estratégia mais do que o campo popular”, disse em sua palestra o professor e jornalista Bernardo Kucinski, chamando a atenção para a necessidade de os movimentos sociais, os sindicatos e os partidos políticos progressistas darem mais atenção a essa questão crucial na sociedade contemporânea.

Para Kucinski, a “mídia tradicional ainda tem grande poder, embora ele tenha sido limitado pelas novas tecnologias de comunicação”, que precisa ser combatida com uma comunicação democrática. “Temos que ter os nossos jornais, que permitam o florescimento de todas as formas de expressão”, disse.

O jornalista e professor da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP também considera que a revolução tecnológica em andamento está proporcionando uma “profunda democratização” da comunicação. “Vivemos um acontecimento maior que o próprio surgimento da imprensa. A Internet vem transformando profundamente os hábitos, as formas de convivência e socialização entre as pessoas. É um instrumento que permite a todos falarem e serem ouvidos, por isso precisamos popularizar este debate”, afirmou Kucinski.

O secretário executivo da Secom da Presidência da República, Ottoni Fernandes Jr., também reconhece que o campo popular possui ações ainda muito fragmentadas, mesmo que já estejam em curso. “As pessoas estão fazendo uso das mensagens via celular para a organização política, como na Ucrânia e no Irã, mas ainda é preciso avançar no uso das novas tecnologias como instrumento de disseminação da informação”, disse.

Ottoni ainda fez uma exposição, com apresentação de dados, em que mostra as ações de mídia e publicidade feitas pela secretaria de comunicação do governo.

Outro tema em destaque na palestra de Ottoni foi a Conferência Nacional de Comunicação convocada pelo governo federal para dezembro, quando será possível debater o fim da propriedade cruzada, a concessão para os rádios e a televisões educativas, a mudança do marco regulatório, com a inclusão de legislação para a Internet e convergência de mídia.

“Será um grande fórum em que cada setor da sociedade deve se manifestar. É o grande momento para que os movimentos populares se organizem e façam propostas para que sejam debatidos na mesa”, afirmou Ottoni.

“A mídia é o maior instrumento legitimador da hegemonia”

O evento recomeçou na parte da tarde com o painel “Novas tecnologias e a batalha da comunicação”, com palestra do professor Venício A. Lima. O sociólogo e jornalista falou sobre o papel que as novas tecnologias, em especial a Internet, podem desempenhar na disputa da hegemonia do discurso da sociedade.

Venício lembrou o filosofo italiano Antonio Gramsci ao afirmar que, em nossa sociedade, vivemos numa batalha pela hegemonia. Para ele, é principalmente através da mídia tradicional que a classe dominante mantém o controle do discurso da sociedade, dando legitimidade a seu domínio. “A mídia é o maior instrumento legitimador da hegemonia na atualidade”, afirmou. Segundo ele, os meios de comunicação cumprem hoje papel semelhante ao do discurso religioso na Idade Média.

Para o sociólogo, a chegada das novas tecnologias traz novos elementos para essa situação, modificando a relação das pessoas com a informação. Uma das conseqüências dessa novidade pode ser vista na eleição de 2006, quando o presidente Lula foi reeleito apesar da oposição intensa da grande mídia. “Os jornalistas e articulistas dos grandes meios já não são mais os únicos formadores de opinião. A internet embananou esse processo”, afirmou.

Segundo ele, pesquisas mostram que um dos fatores que influenciou a eleição de 2006 foi a articulação dos movimentos do campo popular por redes sociais, como o Orkut e outras, que permitiram um movimento contra-hegemônico. “As novas tecnologias têm desempenhado um papel de contraposição à grande mídia tradicional, mas ainda não sabemos o tamanho dessa mudança”, disse.

Outra mudança é a possibilidade que o público passa a ter de buscar outras fontes de informações, colocando em xeque a credibilidade dos veículos tradicionais. O caso do blog lançado pela Petrobras é um exemplo desse movimento, pois permite que a empresa evite a manipulação de entrevistas e outras manobras comuns na grande mídia. “Antes não havia contestação à versão dos veículos tradicionais. Agora, eles terão que se preocupar com a questão da credibilidade”, afirmou.

Apesar de reconhecer o papel das novas tecnologias nessa batalha, Venício alertou para o poder que a grande mídia ainda mantém. “Acredito que a Internet tem potencial para criar um ambiente mais democrático e plural, Mas estamos num momento em que o velho esta morrendo, mas o novo ainda não nasceu. A mídia ainda tem poder para destruir reputações e influenciar muito a sociedade”, disse.

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no telegram
Telegram