Dilma: ‘Primeiro achei que fim da CGU era só golpe de marketing; agora está explicado’

A presidenta Dilma Rousseff afirmou, na noite de segunda-feira (30), que o atual governo interino de Michel Temer é um governo de “homens, brancos, velhos e ricos”. De acordo com a presidenta, que participou de ato público realizado na Universidade de Brasília e falou pela primeira vez sobre a queda do ministro da Transparência, Fabiano Silveira, nunca um ministro da Controladoria-Geral da União (CGU) foi afastado no seu governo. E disse que é com coragem e consciência que os brasileiros vão vencer a luta pela democracia.

A presidenta disse que estranhou quando o governo interino transformou a CGU no Ministério da Transparência porque foi em seu governo que foi implementado o portal da Transparência e o órgão estava bem estruturado. “Primeiro achei que era uma jogada de marketing, agora está explicado o motivo”, ironizou, em meio a aplausos. “Tenho certeza que o objetivo da mudança era tornar obscura a transparência dentro do Executivo.”

Dilma ressaltou também que a imprensa internacional deu uma grande ajuda no sentido de ajudar a esclarecer que o que acontece no Brasil é um golpe, inclusive para os brasileiros. Mas os principais responsáveis por deixar todas as articulações que levaram ao processo de impeachment mais do que claras foram os próprios "golpistas", por meio das conversas gravadas e divulgadas nos últimos dias.

“Eles têm um conjunto de armamentos sofisticados, contaram com o apoio de segmentos empresariais e de representantes do parlamento brasileiro. Nós temos a nossa consciência. Sabemos o motivo da luta e é isso que transforma a nossa energia em força e emoção”, disse.

'Silêncio constrangedor'

A presidenta ainda chamou a atenção para o fato de que as gravações divulgadas nos últimos dias  mostram o que chamou de “silêncio constrangedor” dos políticos sobre os motivos que levaram à abertura do processo de impeachment contra ela. Uma vez que as gravações – de conversas entre o senador Romero Jucá (PMDB-RR), Renan Calheiros (PMDB-AL), o ex-presidente José Sarney (PMDB-MA) e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, o agora ex-ministro da Transparência Fabiano Silveira e um ex-assessor de Renan chamado Bruno (ainda não revelado) – mostram a importância citada por esses políticos de verem o então vice-presidente Michel Temer subir ao poder e de ser parada a Operação Lava Jato.

“Em nenhuma dessas conversas encontramos frases que digam respeito aos seis decretos de créditos suplementares (que levaram às famosas pedaladas fiscais) nem ao Plano Safra”, destacou. A presidenta, foi homenageada por meio do lançamento do livro intitulado A Resistência ao Golpe de 2016, escrito por 105 professores de várias universidades do país, também fez questão de explicar a diferença do golpe que está sendo feito contra ela e os motivos pelos quais a contestação de que não há golpe em curso, feita por parte dos aliados do governo provisório, não tem sentido.

De acordo com Dilma, a diferença do golpe que está em curso este ano para o de 1964 é que o de agora não derrubou o processo democrático do Brasil, mas o interrompeu. “É como um parasita que chega numa planta para desolar. Este golpe tenta transformar o atual momento democrático em que o país vive. É um golpe frio. Por isso, precisamos lutar dentro da democracia para conseguir combatê-lo.”

O evento, realizado no espaço Darcy Ribeiro, da UnB, contou com a participação de professores, parlamentares, escritores, artistas e mais de 4 mil estudantes, que receberam a presidenta com gritos de “Volta, querida”, “Fica, Dilma” e “Não queremos um governo golpista”.

Foi marcado por cenas inusitadas, como o momento em que um estudante negro que gritou “Presidenta, obrigada por fazer com que eu esteja numa universidade”. Ou quando a estudante do curso de Relações Internacionais Luiane Dias, escalada para discursar em nome de todos os alunos, quando foi dar um abraço em Dilma no final da fala, não conteve a emoção e caiu no choro.

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