Diário do Grande ABC: Bancos abrem agências, mas eliminam vagas

Diário do Grande ABC
Fábio Munhoz

Apesar de os bancos expandirem a rede de atendimento no Grande ABC, o número de pessoas empregadas no setor diminuiu desde 2010. Entre as explicações para a redução no quadro de funcionários está o aumento no uso da tecnologia, já que muitas transações são feitas à distância, por meio de computadores, tablets ou smartphones.

Em quatro anos (até 2014), 44 unidades bancárias foram abertas nas sete cidades, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), passando de 350 para 394 agências. Isso representa aumento de 12,57% ante 2010.

Por outro lado, o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Emprego), mostra que, nesse mesmo intervalo, o número de trabalhadores no setor teve queda de 1,09%, caindo de 8.606 para 8.512 pessoas. Na proporção de funcionários por agência, a discrepância fica mais evidente. Em 2010, eram pouco mais de 24 bancários por unidade. Hoje, cada local conta com cerca de 21 – 12,5% a menos.

O presidente do Sindicato dos Bancários do ABC, Belmiro Moreira, afirma que, em alguns locais, a situação é ainda pior. “Tem agências abrindo com quatro ou cinco funcionários. Algumas não têm sequer caixas. O número de trabalhadores não é suficiente para atender as pessoas. E é justamente esse debate que fazemos com os banqueiros nas negociações da campanha salarial”, comenta.

O professor Marcos Antonio de Andrade, do curso de Ciências Econômicas da Universidade Mackenzie, acrescenta que as instituições financeiras oferecem tarifas mais baratas para os usuários que preferirem o internet banking, com o mínimo possível de relacionamento físico com a empresa. “Quando você abre uma conta, é quase obrigado a fechar um pacote de serviços (eletrônicos). O cliente na agência fica muito mais caro para o banco do que quando usa alguma forma de automação, pois, quanto mais gente, aumentam os gastos com estrutura para atendimento.”

Outro artifício adotado pelas instituições financeiras para reduzir gastos é a utilização dos correspondentes bancários, quando o banco autoriza que estabelecimentos como farmácias, supermercados e casas lotéricas façam operações, como pagamento de contas. A prática, entretanto, é criticada pelo sindicato. “Isso é precarização do serviço bancário, já que esses trabalhadores (do comércio) têm carga horária maior, salário mais baixo e não contam com o aparato de segurança”, acrescenta Belmiro.

Além de transtornos para os usuários, os representantes dos trabalhadores acrescentam que a operação com quadro reduzido gera problemas na saúde dos bancários, devido à sobrecarga de trabalho e aumento da pressão. “Imagine uma agência com quatro funcionários. Se um sai para fazer visita e outro vai almoçar, os que ficam não podem nem ir ao banheiro”, alerta Maria Rita Serrano, ex-presidente do sindicato e empregada da Caixa Econômica Federal.

Procurada pelo Diário, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) diz que o número de bancários no País passou de 390 mil para 500 mil nos últimos dez anos. A entidade acrescenta que a rotatividade no setor é baixa, de 7,83%, enquanto o índice médio nacional é de 42,68%. Atualmente, são cerca de 23,1 mil agências no Brasil, segundo o Banco Central.

Ex-bancário muda de profissão e hoje é empreendedor

O hoje empresário Fernando Parpinelli, 35 anos, é um dos que integram a estatística sobre trabalhadores que deixaram o setor financeiro nos últimos anos. Entre 1998 e 2002, foi funcionário do Banco PanAmericano (hoje Banco Pan). De 2002 a 2009, o morador de São Bernardo atuou no Unibanco.

Entretanto, a partir de 2007, Parpinelli percebeu que poderia ter sucesso em outros ramos de atuação. Foi então que, ainda bancário, começou a trabalhar nos tempos livres com vendas diretas. “Comecei a montar uma equipe e, em pouco tempo, já ganhava duas vezes mais do que o meu salário de bancário.”

Com o dinheiro extra, adquiriu uma loja de moda militar no Centro de Santo André. Em 2009, com os negócios evoluindo, decidiu deixar o banco. “Foi a decisão mais difícil que tomei, pois eu tinha a falsa segurança de que eu estava com o emprego fixo. Isso gerava um conforto. Mas, depois, vi que queria mais e sabia que seria muito difícil crescer do jeito que eu queria no Unibanco ou em qualquer outro banco.”

Ainda em 2009 iniciou o trabalho de vendas dos produtos da Monavie, empresa que foi vendida em 2013 e que produzia bebidas energéticas. “Fui um dos maiores vendedores da América Latina e, por isso, viajei para vários lugares do mundo. Mas, depois que a Monavie foi vendida, resolvi tocar o barco sozinho como consultor de marketing ou consultor de vendas diretas.”

Hoje, além da atividade na área de consultoria de negócios, ele mantém a loja no Centro de Santo André e já faz planos para o futuro. “Estou transformando em um e-commerce. É impressionante o volume de vendas que surgem a partir da internet”, comenta o empresário, sem sentir saudades do banco.

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