Contraf-CUT questiona mudanças no Guia dos Bancos Responsáveis

A Contraf-CUT questionou as alterações de critérios na elaboração da versão brasileira do Guia dos Bancos Responsáveis (GBR) de 2015, durante o ato de lançamento nesta quarta-feira (11) promovido pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), em São Paulo.

Realizado pelo Idec desde 2010, o projeto é fruto de uma aliança internacional de sete países (Brasil, Indonésia, Holanda, França, Bélgica, Japão e Suécia), que também realizam o “Fair Finance Guide International” (Guia Internacional de Finanças Responsáveis), coordenados pela Oxfam Novib (confederação que inclui 17 organizações trabalhando por meio de parcerias e em comunidades em mais de 90 países). O GBR conta ainda com apoio da SIDA (Swedish International Development Cooperation Agency).

> Clique aqui para acessar o GBR 2015.

Segundo Elici Bueno, coordenadora-executiva do Idec, a ideia é que a transparência fomentada pelo GBR e sua intensa divulgação contribuam para a melhoria consecutiva das instituições financeiras e do sistema bancário como um todo”.

Faltou participação dos bancários e dos clientes

“Houve uma mudança de metodologia em relação aos guias anteriores. A atual equipe do Idec comparou e analisou os dados a partir de relatórios públicos dos bancos, sem a menor participação e interação dos agentes envolvidos (movimento sindical e outras organizações da sociedade civil organizada)”, afirma Deise Recoaro, secretária de Mulheres da Contraf-CUT, que acompanhou o lançamento.

“Estranhamos tal escolha por contrariar o próprio conceito de Responsabilidade Social, que pressupõe a participação ativa dos chamados ‘stakeholders’, ou seja, as ‘partes interessadas'”, salienta Deise

“Somos mais que interessados na construção do guia, pois, além de representarmos quase meio milhão de trabalhadores e trabalhadoras, fazemos a interface com os movimentos sociais e com os clientes, denunciando as discriminações e contradições de um setor altamente lucrativo que explora funcionários e clientes sem o menor controle social dos impactos disto”, ressalta Andréa Vasconcelos, secretária de Políticas Sociais, que também participou do evento.

Segundo depoimentos de integrantes da própria equipe do Idec feitos durante a apresentação do guia, essa nova metodologia traz menos constrangimentos para os bancos, que subjulgavam os guias anteriores por conter visões contraditórias aos que os bancos queriam passar, e classificavam de “subjetivas” as críticas levantadas especialmente pelo movimento sindical.

“Lamentamos esse retrocesso em relação aos guias anteriores, o que demonstra a imaturidade dos bancos em debater os reais problemas. Acreditamos que essa postura compromete os espaços democráticos de participação popular para se alcançar a real democracia no Brasil”, defende Andréa..

Mesmo que a mudança tenha, de certa forma, favorecido a avaliação dos bancos no guia, o Idec ainda classifica com “sofrível” o desempenho no setor. Foram relatadas algumas experiências internacionais, como a Holanda, que classificou como positiva a participação do movimento sindical local no processo de construção do guia holandês.

O que é o GBR 2015

Segundo o Idec, o GBR é uma plataforma online que engloba a pesquisa de estudos de práticas bancárias – como abertura de contas, contratação de crédito e quitação antecipada de crédito -, e o trabalho de análise de políticas socioambientais dos seis maiores bancos brasileiros (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, HSBC Itaú e Santander) por meio da análise de relatórios anuais e de sustentabilidade, políticas de risco e outras informações e documentos publicados por essas instituições financeiras.

O resultado aborda 13 grandes temas: armas, transparência; impostos; alimentos; meio ambiente; mudanças climáticas, geração de energia, mineração, óleo e gás, remuneração, florestal, direitos humanos e direitos trabalhistas. Oferece também ferramentas interativas para comparação entre bancos e de mobilização social para melhoria das instituições bancárias, além de notícias e informações úteis que podem auxiliar o consumidor no processo de troca de instituição financeira, em caso de insatisfação.

A plataforma possibilita ainda ao usuário consultar o desempenho de seu banco por meio do acesso a informações detalhadas, que a maioria dos consumidores desconhece, organizadas de forma clara e simples, como fontes de investimento, relações trabalhistas e estudos de caso.

O usuário pode saber, por exemplo, qual é o papel e a forma de atuação do seu banco em relação a empresas que atuam no setor de armas ou como ele se engaja no fomento a geração de energia renovável. A pesquisa também investiga as políticas e a tolerância dos bancos a atividades com implicações e riscos socioambientais comprometedores, como relações de trabalho injustas, bem estar animal e desmatamento.

A importância do GBR

No site do Idec também é possível ter acesso à série de pesquisas sobre práticas bancárias que o Idec desenvolveu durante 2014. Está disponível também a comparação de aspectos entre diferentes bancos, o que facilita ao consumidor uma reflexão sobre seu vínculo com instituições que influenciam de forma decisiva a sociedade e as condições de vida atuais.

Em caso de insatisfação generalizada, o site fornece duas ferramentas de mobilização. A primeira é a possibilidade de envio de um e-mail diretamente para a área de Sustentabilidade do banco. Caso a insatisfação seja maior, o site apresenta informações e dicas que podem auxiliar o usuário a trocar seu banco por outra instituição com melhor desempenho.

“Essas ferramentas incentivam o usuário a assumir um papel mais proativo na mobilização por instituições financeiras mais responsáveis, seja enviando uma reclamação a determinado banco ou até parabenizando-o por possuir práticas exemplares”, observa Carlos Thadeu de Oliveira, gerente técnico do Idec.

Há um incentivo à busca, não somente por melhores práticas, mas por compromissos essenciais e ações que vão além do patamar exigido pela legislação. “Temos um reconhecimento do papel-chave do setor financeiro em aperfeiçoar não apenas as práticas bancárias, mas também as das empresas que são seus clientes e fornecedores, a fim de garantir o acesso a uma sociedade mais justa, equilibrada, ética e sustentável”, explica Ione Amorim, economista do Idec.

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