Contraf-CUT lembra Dia Mundial de Combate às LER/Dort nesta sexta

Bancários estão entre as categorias que mais adoecem

Dia 28 de fevereiro. A data do calendário não chama a atenção neste ano apenas para a sexta-feira de carnaval. Para os trabalhadores daqui e do mundo todo, é também o Dia Mundial de Combate às Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort).

No Brasil, foram concedidos pelo INSS, em 2013, 76.400 benefícios de auxílio-doença acidentário em função das LER/Dort, o que corresponde a quase um terço dos 304 mil afastamentos de trabalhadores por acidente ou doenças do trabalho no ano passado.

A categoria bancária está entre as mais afetadas. A Universidade Federal do Rio Grande do SUL (UFRGS) acompanhou o trabalho de 356 funcionários, de 27 agências de Porto Alegre, entre bancos públicos e privados. O objetivo foi identificar como as sucessivas inovações nos processos de trabalho, estabelecidos pelos bancos, refletem nas ocorrências de doenças ocupacionais. O estudo publicado na Revista Saúde Pública, em 2012, revela que 27,5% dos bancários apresentaram casos sugestivos de LER/Dort.

LER/Dort e as bancárias

As mulheres, em geral, foram as mais atingidas pelas lesões, representando 35% da amostra pesquisada, enquanto os homens somaram 21,5%. Em relação à idade, os bancários entre 26 e 45 anos apresentaram 2,8 vezes mais os sintomas do que quando comparados com os outros trabalhadores. O estudo da UFRGS também aponta que, quanto mais tempo na função, maiores as chances de desenvolver LER/Dort.

Ambiente que adoece

Na comparação com décadas anteriores, em que as lesões e distúrbios estavam mais concentrados nas funções de caixa e escriturário, a pesquisa da UFRGS mostra que o problema atinge todos os setores atualmente.

Para Walcir Previtale, secretário de Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT, o ambiente bancário é, comprovadamente, um causador deste tipo de doença. “Outros estudos já publicados também detectaram que o ritmo intenso de trabalho, a pressão implícita ou explícita para manter este ritmo, as metas estabelecidas sem a participação dos trabalhadores e impossíveis de serem cumpridas, incentivos à maior produtividade por meio de diferenciação salarial e prêmios, induzem as pessoas a ultrapassar seus limites. Pressão e autoritarismo também favorecem o aparecimento de LER/Dort.”

Dificuldades no tratamento

De acordo com levantamento do Ministério da Previdência Social, as LER/Dort atingem todos os setores produtivos, com grande incidência na agricultura, indústria e setor financeiro, sendo verificada também no setor de transporte e na construção civil.

Após os 15 dias iniciais de afastamento das atividades exercidas, o trabalhador deve ser encaminhado ao INSS para ser avaliado por um médico perito, que lhe concederá ou não o benefício do auxílio-doença.

A médica e pesquisa da Fundacentro, Maria Maeno, aponta que há muitas falhas do INSS neste processo, que contribuem para a piora do quadro clínico do trabalhador.

“Muitos problemas amplamente divulgados pelo movimento sindical vêm ocorrendo nesse fluxo e um deles se refere ao critério utilizado pelo INSS para considerar uma pessoa incapacitada para o trabalho. Frequentemente, o INSS não reconhece a incapacidade de trabalhadores desconsiderando relatórios de médicos assistentes e sem análise da atividade de trabalho. A incapacidade deve ser sempre vista em relação às exigências do trabalho, mas esse aspecto não é contemplado na avaliação pericial do INSS”, ressalta Maeno.

Mesmo depois do tratamento, muitos bancários voltam a apresentar os sintomas após regressarem ao local de trabalho. Pelo medo de discriminação e demissão, eles acabam ocultando o adoecimento, chegando a fazer uso de medicação controlada para trabalhar.

“As crises relacionadas às LER/Dort continuam a ocorrer porque os estímulos causadores permanecem nos processos de trabalho. Os trabalhadores não têm poder e autonomia para eliminá-los e tampouco controlá-los individualmente. Por exemplo, não adianta o banco falar ou fazer cartilha para os bancários orientando-os para trabalharem dentro do ritmo deles, pois o processo de trabalho e a gestão nas empresas não lhes permite que eles façam isso. As possibilidades de pausas e de trabalhar de forma diferenciada deveriam fazer parte da organização do trabalho e da gestão dos bancos”, orienta Maeno.

Atividades

Várias atividades estão marcadas para esta sexta-feira no país, chamando a atenção para o problema. Em Belém, o Sindicato dos Bancários do Pará realiza um seminário direcionado à categoria, principalmente aos delegados sindicais e aos bancários afastados por doenças laborais.

O Sindicato dos Bancários de Sergipe promove uma palestra sobre os fatores que interferem significativamente para a ocorrência das doenças laborais, com o fisioterapeuta Alisson Aulino de Santana.

“As LER/Dort ainda incapacitam milhares de trabalhadores no país e isso acontece por conta da exclusão dos próprios trabalhadores do processo em que é determinada a organização do trabalho. Os trabalhadores são convocados apenas para o processo produtivo que foi pensado e determinado por alguém ou por um grupo, cabendo a eles apenas cumprir as ordens e as metas previamente estabelecidas. Isso precisa mudar”, conclui Walcir.

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