Camaleões dos lucros, bancos penalizam população

(São Paulo) O Procon-SP e o Banco Central divulgaram pesquisas em que mostram que as instituições financeiras mantiveram o aumento dos juros e das tarifas de forma injustificada nos últimos meses. De acordo com o órgão de defesa do consumidor, a médias das taxas do Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú, HSBC, Nossa Caixa, Real, Safra, Santander e Unibanco registrou em janeiro um crescimento médio de 4,85% em relação ao mês de dezembro de 2007: de 5,36% para 5,49% ao mês.

No BC, a revelação é ainda mais surpreendente. A taxa média cobrada pelos serviços de crédito subiu dos 33,8% de dezembro de 2007 para 37,3% em janeiro último, variação de mais de 10%. Os juros do crédito pessoal chegaram a 53,1% anuais em janeiro, contra 45,8% em dezembro. O cheque especial cobrou juros de 145% em janeiro contra 138,1% ao ano em dezembro, entre outros aumentos.

Todas essas elevações ocorreram mesmo com a taxa Selic – índice estabelecido pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central – permanecendo no patamar de 11,25% ao ano e a inadimplência continuar em queda – considerados os atrasos superiores a 90 dias, o percentual ficou em 4,4% com uma queda de 0,6 ponto em 12 meses.

Mimetismo
A causa dos reajustes que está tornando mais caro o crédito para os brasileiros tem nome e é antigo conhecido de quem mantém olhar crítico sobre o sistema financeiro: ganância.

Desde o final do ano passado o governo federal anunciou uma série medidas para regular o setor e recuperar perdas de recursos provocadas pelo fim da cobrança da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira).

A CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido) do setor financeiro, por exemplo, deve subir de 9% para 15% a partir de abril. Além disso, ocorreu o acréscimo de 0,38% na alíquota do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) nas operações de crédito. As que eram isentas, exceto as operações mobiliárias, passaram a pagar 0,38%.

Ainda no final do ano passado, o Conselho Monetário Nacional (CMN) divulgou um pacote de padronização de valores das tarifas básicas que os bancos poderiam cobrar de clientes – pessoas físicas – e cortou as cobranças que eram mais de 50 para 20 tipos. Os nomes dos serviços também foram padronizados, para garantir à população a possibilidade de comparar os valores dos produtos de um banco para o outro. O reajuste de tarifas só poderá ser feito a cada seis meses, a partir de abril deste ano.

“As alterações entrarão em vigor dentro de alguns meses e os bancos já estão aumentando suas taxas. Querem manter o crescimento de 20% ao ano, em média, que se repete há uma década, às custas da sociedade brasileira”, avalia o presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Luiz Cláudio Marcolino.

O lucro das maiores instituições financeiras cresceu 496,26% nos últimos dez anos, contra uma inflação de 103,94 % (INPC). Em 1997, o lucro líquido somado dos onze maiores bancos do sistema financeiro nacional totalizou R$ 5,401 bilhões. E 2007, – excluindo-se Safra e HSBC que ainda não divulgaram seus balanços – a soma chegou a R$ 32,210 bilhões, R$ 26,809 bilhões mais .

O presidente do Sindicato destaca que os bancos se adaptam às mudanças econômicas do país com a agilidade mimética de um camaleão. “Quando houve o freio na ciranda financeira com o fim das altas inflações, os banqueiros criaram as tarifas e até hoje continuam ganhando muito com as taxas cobradas dos clientes. Agora, com as medidas anunciadas, elevam as taxas de juros. Estão na contramão da responsabilidade social e da sustentabilidade que, como querem fazer crer suas campanhas publicitárias, deveriam pautar a atuação dos bancos no Brasil”, completa Marcolino.

Fonte: Jair Rosa – Seeb São Paulo

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