BTG Pactual compra banco suíço e avança no projeto de internacionalização

Talita Moreira
Valor Econômico | De São Paulo

O BTG Pactual deu ontem o maior passo em seu plano de internacionalização ao anunciar a compra do private banking suíço BSI. O negócio dobra o volume de ativos sob gestão do grupo e estende a presença do banco além das fronteiras da América Latina.

Pela operação, o BTG vai pagar 1,5 bilhão de francos suíços (US$ 1,68 bilhão) à italiana Assicurazioni Generali, controladora do BSI. Do total, 80% serão pagos em dinheiro e o restante, em ações que serão emitidas em um aumento de capital do banco brasileiro. A conclusão da compra depende da aprovação do Banco Central e das autoridades europeias, esperada para os próximos seis a oito meses.

É a maior aquisição internacional já feita por um banco brasileiro, segundo levantamento do Valor. A união com o CopBanca no Chile implicará um aporte de US$ 652 milhões do Itaú Unibanco, sem envolver desembolsos em dinheiro. Em 2011, o J.Safra comprou o private banking suíço Sarasin por US$ 1,12 bilhão, mas o negócio não foi feito pelo braço local dos Safra.

A operação também é, com folga, a maior compra de ativos no exterior feita pelo BTG. Em 2012, o banco adquiriu a Celfin, no Chile, por US$ 245 milhões. Meses mais tarde, assumiu a corretora colombiana Bolsa y Renta por US$ 51,9 milhões.

Na semana passada, o banco anunciou a aquisição das subsidiárias da Ariel Re Limited, grupo internacional de resseguros com escritórios em Londres e Bermuda. O acordo prevê a compra de 100% das ações que pertencem ao Global Atlantic Financial Group. O valor da transação foi de US$ 350 milhões, mas contará com a parceria de um investidor estratégico, cujo nome não foi revelado, que arcará com 50% do montante.

O BSI, fundado em 1893, representa um reforço de peso na área de gestão de fortunas para o BTG. A marca, que será mantida, tem presença em mais de dez países. Com ele, o banco brasileiro passa a ter US$ 200 bilhões em ativos sob gestão.

“A combinação das duas entidades vai criar um novo competidor global em gestão de recursos”, afirmou o presidente do BTG, André Esteves, em teleconferência.

As áreas de gestão de ativos e de fortunas vão representar aproximadamente a metade da receita total do banco a partir da integração do BSI. No ano passado, as duas linhas de negócio contribuíram com 30%.

A operação também aumentará a capacidade de distribuição do BTG, que poderá oferecer aos clientes do BSI, indivíduos e famílias de alto poder aquisitivo, produtos originados em seu banco de investimentos.

Por isso, o banco suíço se encaixa na ambição de Esteves de criar uma instituição com alcance nos principais mercados do mundo. “É bom para o mundo ter companhia globalizada como a nossa, mas baseada em um país emergente”, afirmou o banqueiro. “Ainda dá para chegar muito longe.”

O momento contribuiu para o banqueiro caminhar em direção a essa meta. A Generali se desfez do BSI porque queria se capitalizar. Bancos e seguradoras da Europa precisam reforçar suas posições de capital para se adequar à regulamentação do setor financeiro no pós-crise, muito mais exigente.

“A crise nos ajudou, deu mais espaço para a gente fazer essa aquisição”, disse Esteves. “Em tempos normais, haveria mais competidores [na disputa].”

Ao mesmo tempo, os bancos da Suíça estão na berlinda, pressionados pelo fim do tradicional sigilo bancário do país. Muitas dessas instituições estão sob ameaça de multas bilionárias nos EUA, em processo que investiga casos de evasão fiscal de americanos. UBS e Credit Suisse já firmaram acordos com o Departamento de Justiça dos EUA para evitar uma condenação.

O BSI também é alvo do processo, mas um eventual acordo com os EUA será coberto pela Generali e não terá impacto no preço de aquisição, disse Esteves. “Não altera o valor do negócio. O banco vai vir limpo para nós.”

Para o banqueiro, o fim do sigilo pode beneficiar o BTG à medida que a Suíça busca uma transição rumo a um modelo mais baseado em serviços.

O BTG já havia revelado em maio que negociava com a Generali essa aquisição. Ontem, com o anúncio da operação, as units do banco brasileiro subiram 1,02% na BM&FBovespa, cotadas a R$ 34,50.

Novas aquisições estão no radar. “No mercado internacional, quando tiver oportunidade, a gente vai se mover sim”, disse Esteves. “Já somos grandes em escala global, mas tem gente muito maior e nada nos impede de ser tão grandes quanto os maiores da indústria.”

A dispersão geográfica e de áreas de negócios tem sido a tônica do BTG, uma forma de tornar mais estáveis os resultados da instituição. Nos últimos dois anos, o banco se empenhou em avançar na América Latina com o objetivo de se tornar um banco de investimentos com força regional. Essa estratégia ajudou o BTG a minimizar os efeitos da desaceleração econômica no Brasil.

Embora o planejamento agora seja “crescer muito” fora da América Latina, o BTG ainda enxerga oportunidades na região. O banco já tem uma plataforma no Chile, na Colômbia e no Peru, mas pode ampliar sua atuação no México e na Argentina, a depender das condições desses mercados.

Segundo Esteves, a meta do BTG de entregar retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) acima de 20% ao ano não muda com a aquisição.

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