Bancos negociam ativos e lucram nos EUA

Do “NEW YORK TIMES”
Tradução de PAULO MIGLIACCI

O Bank of America e o Citigroup, gigantes que vieram a simbolizar os problemas que estão abalando o setor bancário dos Estados Unidos, anunciaram ontem que voltaram a ter lucros consideráveis.

O Bank of America teve lucro de US$ 3,2 bilhões no segundo trimestre. O Citigroup ganhou US$ 4,3 bilhões no mesmo período. Mas, por trás dos números, existe uma realidade que requer cautela. Os resultados auspiciosos foram propelidos por bilhões de dólares, no caso do Bank of America, com os lucros da venda da participação no banco China Construction Bank, e, no do Citigroup, pelos ganhos com a fusão da sua corretora Smith Barney com as operações de corretagem do Morgan Stanley.

Sem essas receitas extraordinárias, os bancos, a despeito de terem sido resgatados com dinheiro do contribuinte americano, teriam sofrido bilhões de dólares em prejuízo.

Os problemas financeiros que afligem os consumidores norte-americanos, porém, prejudicaram os dois gigantes. Os dois bancos constituíram bilhões de dólares em reservas para cobrir os prejuízos que devem surgir com empréstimos ao consumidor e alertaram de que, dadas as dificuldades econômicas, o caminho à frente pode se provar pedregoso.

Os resultados superaram as expectativas dos analistas, mas ambos só tiveram lucro devido à negociação de ativos: o Bank of America ganhou US$ 5,3 bilhões com a venda da participação no banco chinês, e o Citigroup, US$ 11,1 bilhões, com o acordo com o Morgan Stanley.

Mais capitalização

O Bank of America também disse que elevou em quase US$ 40 bilhões sua capitalização, por meio da emissão de ações e vendas de ativos, o que sinaliza que está se preparando para absorver prejuízos com suas transações comerciais e de empréstimos ao consumidor.

Ainda assim, os analistas afirmaram, antes do anúncio do resultado, que o Bank of America pode precisar de mais capitalização. O banco anunciou que suas operações mundiais de cartões de crédito perderam US$ 1,6 bilhão no segundo trimestre, devido às “economias enfraquecidas dos EUA, da Europa e do Canadá”.

“Acredito que eles precisarão criar bilhões de dólares em reservas contra prejuízos com empréstimos, neste trimestre”, disse Jeff Harte, analista da Sandler O’Neill. “Isso terá custos significativos para eles.”

O presidente-executivo do banco, Kenneth Lewis, reconheceu em comunicado que “há desafios severos à frente, devido à fraqueza que continua a existir na economia global”. No Citigroup, o presidente-executivo Vikram Pandit ecoou essa opinião. “Nosso desafio mais significativo continua a ser o crédito ao consumidor”, afirmou. “Os prejuízos em nossas operações ao consumidor estão crescendo há algum tempo, mas vemos sinais positivos de que as tendências de perdas agora estão se moderando.”

Os dois bancos têm posições firmes em serviços tradicionais como empréstimos ao consumidor e à empresas, e, à medida que o desemprego e os números quanto aos salários continuam a piorar e os consumidores atrasam mais e mais as suas contas, as perdas com financiamento e com operações de cartão de crédito se acumulam. As pequenas empresas vêm apresentando índices de inadimplência cada vez maiores em seus empréstimos, dada a estagnação do ambiente de negócios. As perspectivas são mais obscuras no Citigroup, há muito visto como o mais abalado entre os grandes bancos.

Os prejuízos diretos do Citigroup com empréstimos totalizaram US$ 8,4 bilhões entre abril e junho, com uma elevação de 81% no total de perdas com empréstimos e mais provisões de reservas para elas, que atingiu US$ 12,4 bilhões.

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