Bancos mais endividados do que países dilaceram economias

Sete anos após o seu início, a crise de dimensão global segue sem solução à vista. A insolvência financeira originada no mercado imobiliário dos Estados Unidos (subprime loan) rapidamente se generalizou no mercado financeiro por meio de derivativos de diversas naturezas, logo denominados créditos podres.

Como a corrente rompe-se no seu elo mais fraco, os clientes ninja (no incomeno jobno assets: sem renda, sem emprego e sem patrimônio) foram identificados como responsáveis pelo estopim da crise do endividamento (empréstimos hipotecários, cartões de créditos e de aluguel de automóveis, entre outras formas). A escalada de falências de empresas financeiras e não financeiras derrubou as bolsas de valores e se generalizou pelo mundo entre os anos de 2008 e 2009.

Três anos depois, entre 2011 e 2012, uma segunda onda da crise de dimensão global iniciada em 2008 colocou como centro vários países da Europa. O crescimento do endividamento público gerado pela troca dos créditos podres do setor privado por dinheiro novo não havia provocado novo crescimento econômico, desviado que foi para continuar alimentando a ciranda financeira.

Sem aumento da produção, emprego e renda, a arrecadação fiscal não subiu, impossibilitando reduzir a dívida pública de solvência dos grandes tubarões do mercado especulativo. O aperto no gasto público, por meio da adoção de programas de austeridade fiscal, levou ao novo tombo nas economias.

Desde 2014, a terceira onda da crise de dimensão global dilacera vários países, entre eles parte do Brics, como Rússia e Brasil, que apesar de seus problemas internos, sofrem com o regime capitalista de dominância financeira. Em 2015, a Rússia de Brasil deverão registrar queda de 3% a 4% do produto, enquanto a China, Índia e África do Sul deverão crescer bem menos do que em 2007.

Não obstante a ênfase de economistas, jornalistas e analistas pró-mercado martelarem continuamente que o problema está no endividamento público, percebe-se que a dívida dos bancos é muito maior que a dos Estados nacionais. Na Alemanha, a dívida dos bancos em relação ao PIB foi 4,4 vezes maior que a dívida pública em 2014, enquanto nos Estados Unidos foi de 3,3 vezes maior e 7,3 vezes no Reino Unido.

Além disso, percebe-se também que as dívidas bancárias encontram-se parcialmente ramificadas globalmente. Em países como Alemanha, Estados Unidos e Japão, menos de 10% da dívida bancária está internacionalizada, diferentemente de França e Bélgica, onde se aproxima de 20% do total.

O bloqueio atual ao crédito no financiamento produtivo das economias pelos bancos não resulta simplesmente do patamar das dívidas públicas, mas do caráter especulativo engendrado pelo regime de dominância financeira sobre a rota capitalista deste início de século 21. Reverter essa lógica de funcionamento segue sendo a saída para o retorno do financiamento saudável das economias (governo, empresas produtivas e famílias).

No Brasil, a ruptura no padrão de financiamento dos setores de infraestrutura, energia e construção civil imposta pela Operação Lava Jato respondeu pela metade da queda do PIB em 2015, cujas consequências sobre o emprego e renda da população são inegáveis. Para o ano de 2016, as consequências da Lava Jato poderão ser ainda mais significativas, com a ameaça de quebra de bancos públicos e privados frente a dívidas acumuladas em mais de R$ 1 trilhão e não pagas.

Assim, pode estar se avizinhando um novo Proer de salvaguarda dos bancos, caso não se resolva o impasse estabelecido pela Operação Lava Jato. A sua incompreensão entre direção de empresa e o funcionamento da empresa propriamente dita pode forçar não apenas a quebra da engenharia nacional, trazendo consigo a desnacionalização do setor e nova crise bancária no Brasil.

Dívida pública e dos estabelecimentos financeiros em 2014 (em % do PIB)

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