Bancos brasileiros captam bilhões no exterior com emissão privada de dívida

Filipe Pacheco
Valor Econômico

Para grandes bancos brasileiros, o ano que acaba foi aquecido não só para emissões de bônus em moeda estrangeira mas também para colocações privadas de dívida no exterior. Tais operações, que consistem na venda de títulos de prazos mais curtos que aqueles das grandes emissões públicas e são combinadas diretamente com investidores lá fora, totalizaram cifras bilionárias para instituições como Bradesco e Banco do Brasil. Só esses dois bancos captaram cerca de US$ 14,5 bilhões em 2012 junto a grandes investidores institucionais, como fundos de pensão e soberanos, seguradoras, fundos de investimento, tesourarias e famílias muito ricas.

Conhecidas como “private placements” no mercado, as colocações figuram como uma estratégia complementar às ofertas públicas de bônus, que já são comuns para bancos como BB, Bradesco, BTG Pactual, Itaú Unibanco e Santander Brasil. Juntos, esses bancos levantaram pouco mais de US$ 14 bilhões nas ofertas de bônus neste ano. Embora não se tenha um número consolidado das colocações privadas das mesmas instituições, apenas a amostra de Bradesco e BB sinaliza que esse universo foi bem mais volumoso.

Santander e BTG Pactual não revelam valores de suas colocações privadas, mas também reconhecem que houve forte apetite por papéis desse tipo. O Itaú não forneceu informações sobre suas operações com o instrumento.

As colocações são feitas, em grande parte, por meio de títulos conhecidos no mercado como CDs (“certificates of deposit”), que geralmente têm prazo de vencimento entre seis meses e um ano; ou com a venda de MTNs (“medium term notes”), cuja maturação é, majoritariamente, de até cinco anos. O dinheiro é usado principalmente para conceder financiamento em moeda estrangeira a clientes.

“Essa era uma forma de funding que antes praticamente não era considerada por bancos brasileiros”, disse Rodrigo Cabernite, diretor de mercado de capitais do banco de capital inglês Standard Chartered, que acompanha esse mercado de perto. Segundo ele, com a crise econômica na Europa e o fechamento desse segmento para bancos daquela região, formou-se um bolsão de liquidez que passou a ser conquistado pelas instituições brasileiras.

No Bradesco, as colocações somaram perto de US$ 10 bilhões em 2012, valor que pode passar de US$ 11 bilhões até o fim do mês. “Para nós, a grande vantagem é ter uma alternativa adicional de funding em moeda estrangeira”, explica Marlene Millan, diretora do departamento de câmbio e responsável pelo financiamento em moeda estrangeira do banco.

Segundo a executiva, o banco começou a fazer emissões desse tipo em meados de 2011, e agora as realiza com frequência praticamente diária, sempre que considera interessante o volume, o prazo e o preço acordados com o investidor. “No ano passado, reconhecemos demandas específicas e concentradas. Mas em 2012 [o número de operações] foi muito maior, fizemos centenas”, disse João Carlos Zani, diretor da unidade de corretagem do Bradesco em Londres e responsável pela distribuição de renda fixa do banco no exterior. “Procuraremos manter esse ‘funding’ no futuro.”

O Banco do Brasil tinha, no fim de setembro, cerca de US$ 4,5 bilhões em títulos emitidos com vencimento em menos de 360 dias e decorrentes de colocações privadas. Tais emissões passaram a ser mais comuns para o banco a partir de 2009, por meio de um programa de notas de curto prazo aberto nos Estados Unidos, chamado de “Yankee CD”. No ano seguinte, o banco abriu outro programa também de títulos curtos, só que em Londres – ao registrá-los em diferentes localidades, o banco atinge mais investidores.

“Com emissões mais curtas, você tem uma diversidade de funding. Hoje, a maior parte das nossas alocações é feita com unidades de private banking e tesouraria de bancos, mas também há alguns fundos interessados”, disse Daniel Alves Maria, gerente-executivo de finanças do BB. Segundo ele, fundos americanos de “money market”, que investem em renda fixa de curto prazo, geralmente buscam alternativas com prazos menores em suas estratégias. Tais fundos consideram, na maioria das vezes, apenas emissores com classificação de risco de pelo menos “A”, mas têm aberto exceções a entidades em degrau um pouco abaixo disso, como é o caso do BB, e com bom perfil de dívida.

O mercado secundário de títulos curtos é consideravelmente menos líquido que o de bônus emitidos em dólar por meio de ofertas públicas e com prazos mais longos, afirmou Alves Maria. Por isso, o banco considera importante se manter ativo tanto no mercado de bônus quanto no de títulos mais curtos, ideia que também é sustentada pelo Bradesco.

Fernando Pierri, superintendente-executivo de investidores institucionais do Santander, disse que o banco recorre há alguns anos a colocações privada de títulos curtos como estratégia de funding, mas afirmou que 2012 foi de fato mais forte para essas emissões. “As colocações foram mais fortes especialmente a partir do segundo semestre deste ano”, disse o executivo, sem informar valores.

A ideia do Santander é também recorrer mais a esse instrumento no ano que vem. “Temos considerado possíveis colocações entre investidores institucionais na América Latina, região onde o banco já é conhecido, inclusive nas moedas locais de Chile, México, Colômbia e Peru”, disse Pierri. Em abril, o banco realizou sua primeira colocação privada no Chile, com títulos vinculados à inflação.

Segundo Axel Blikstad, sócio responsável pela gestão de liquidez do banco BTG Pactual, as colocações privadas também figuraram como importante mecanismo de funding para o banco no ano. Mas ele não revela quantas operações foram feitas nem o valor.

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