Trabalhador repäe infla‡Æo com aumento real

(Porto Alegre) A expectativa de crescimento de 4% da economia brasileira e de uma trajetória mais contida para o aumento de preços ao consumidor devem fazer com que 100% das negociações salariais deste ano reponham pelo menos as perdas causadas pela inflação acumulada nos 12 meses anteriores à data-base das categorias. Em 2005, 80% dos acordos repuseram a inflação. Os percentuais de reajustes reais, contudo, tendem a continuar no mesmo nível: entre 1% e 2%.

A avaliação é de José Silvestre de Oliveira, supervisor do escritório regional do Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Sócio-Econômicos (Dieese), e de dirigentes sindicais. Para Oliveira, o cenário macroeconômico deste ano é mais positivo para os aumentos salariais. "A inflação, variável crucial no momento da negociação, vai jogar a favor dos trabalhadores", afirma.

As categorias que fecharam acordos no começo deste ano contaram com uma inflação acumulada decrescente, que cedeu de 4,85% em janeiro até 2,75% em maio, pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), principal indicador utilizado nas negociações. Até o fim do ano, segundo as projeções da consultoria Rosenberg & Associados, esse indicador ficará em 3,57%.

De janeiro a abril deste ano, pelos dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a produção total de veículos automotores cresceu 4,1% em relação ao ano passado. Já as exportações aumentaram 1,7%.

A Volkswagen, que no começo de maio anunciou a intenção de demitir 5,7 mil trabalhadores no Brasil, usou o câmbio como uma das justificativas para uma reestruturação da empresa no país. Além de demitir funcionários das unidades de São Bernardo do Campo, São José dos Pinhais e Taubaté, a Volks também pretende aumentar a contribuição mensal dos empregados para o plano médico, reajustar os salários abaixo da inflação (85% do INPC), além de reduzir em 35% a tabela salarial de novos contratados na empresa.

Para este ano, no entanto, o aumento já está garantido. José Lopez Feijóo, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, lembra que em 2005 a categoria fechou um acordo inédito, que garantiu reajuste real para dois anos consecutivos. Em 2006, os metalúrgicos da região que trabalham em autopeças vão receber 1,99% além da inflação e os de autopeças e fundição, 1,3%. Entre 2005 e 2006, o aumento real para todos os metalúrgicos do ABC chegará a 5%.

A atitude da montadora colocou o movimento sindical em estado de alerta. Metalúrgicos de outras empresas e trabalhadores do ramo químico, que fornecem peças para montadoras, planejam unir forças para evitar que a Volks coloque em prática tais intenções. "Não podemos deixar que isso ocorra, caso contrário abrirá precedente para outras empresas agirem da mesma forma", ressalta Moisés Selerges, diretor da Comissão de Fábrica da DaimlerChrysler.

No entanto, Selerges diz que, apesar de os trabalhadores da Daimler estarem apreensivos com a situação na Volks, não temem algo parecido. Sem a queixa do câmbio e com a lucratividade em alta, os bancos devem, mais uma vez, sofrer forte pressão dos trabalhadores por aumento salarial e maior participação nos lucros e resultados. Com data-base em setembro e campanha nacional unificada, os bancários buscam percentuais acima da inflação maiores do que o 1% conseguido em 2005.

Carlos Cordeiro, secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), entidade que representa os bancários, diz que as principais reivindicações serão um aumento real melhor do que o do ano passado e uma participação de 5% no lucro líquido dos bancos, além de 1,8 salário a mais.

No primeiro semestre algumas categorias já sentem os benefícios do aquecimento econômico. Os trabalhadores no setor de álcool, por exemplo, têm data-base em maio e fecharam acordos que variam entre 3,66% e 6,66%, além da inflação.

Sergio Luiz Leite, secretário executivo da Federação dos Químicos de São Paulo, admite que o setor foi especialmente bem, mas diz que os demais ramos, que têm negociação em novembro, vão lutar por percentuais parecidos. Para ele, os trabalhadores na indústria de plástico e de tintas devem fechar bons acordos. Em agosto, os químicos se reúnem para definir as principais reivindicações.

Fonte: Seeb Porto Alegre

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